Entrevista Luh
- Mujigae Publisher
- 13 de jun. de 2024
- 7 min de leitura
Seguindo nossa sequência de entrevistas com personalidades ilustres do vale,
hoje conversamos com o Luiz Fernando, um autor e ilustrador incrível <3
Aproveitem, e lembre de deixar muito amor e carinho pra ele nos comentários!

Íris - Oiee!! Se apresente pra gente!! Qual o seu nome, sexualidade, identidade de gênero e pronomes?
Luh - Olá pessoal, meu nome é Luiz, mas podem me chamar de Luh.
Sou um homem cis gay, meus pronomes são: gos & tosa... brincadeiras a parte, é Ele/Dele.
Íris - Hahahaha amei!! Então me fala, Luh, como sua identidade LGBTQIA+ influencia sua arte e escrita?
Luh - Como uma gayzinha safada que sou, vivida dos anos 2000... sim pessoal tenho 15 anos... (em cada perna)... Brincadeira, tenho meus 26 anos e no início do meu caminho do descobrimento da minha sexualidade, não existia nem uma referência como as de hoje e muito menos obras LGBTQIAP+ (pelo menos não acessíveis), para os mais novos de hoje em dia, estou falando que quando cheguei aqui era tudo mato. Todavia crescer e me descobrir foi um caminho bem sofrido, sem é na verdade... mas não me entendam mal, felizmente minha família mesmo que não soubessem lidar, nunca me discriminou e sempre deixaram espaços para diálogos.
Fugi um pouco da pergunta, mas queria que entendessem, que como muitos hoje adultos me isolei e vivi no meu casulo rodeado de cultura japonesa de animes e mangas que aos poucos começou a lançar obras BL ( detalhe, hoje sou uma pessoa que consegue ler em 3 idiomas por causa disso.)
Rodeado de obras japonesas e confrontado com minha sexualidade e minha criatividade que me deixava as vezes noites sem dormir por conta do turbilhão de coisa que tinha dentro da caixola resolvi escrever minhas próprias histórias, mesclei fantasia e mundo real, coloquei desejos, frustrações e depois disso acabei tomando gosto, fazendo isso até hoje.
Íris - E toma esse aulão do telecurso 2000 - Edição Luh! Profissional ❤️
E como você vê o papel da escrita na representação e na luta pelos direitos da comunidade?
Luh - Bem acredito que a escrita, assim como todas as formas de arte são como ferramentas para uma revolução, assim como a nossa existência, mais do que belas palavras jogadas em papel (mesmo que algumas poderiam era ser jogadas em fogueira de praça pública por trazer uma visão completamente deturpada da realidade.) Histórias de amor entre pessoas que além da adversidade vinda de pressões sociais e até mesmo psicológicas, são um grito de sobrevivência, fazendo com que aquela criança que ainda chora por não saber por que é diferente dos pais e por qual motivo é tão odiada por ser diferente possa sonhar em ser feliz, se ver no lugar de protagonista.
Livros são portais que nós tiram das nossas realidades muitas vezes monótonas, nós ensina sobre o mundo, sobre nossa sociedade e também sobre nós. Pessoas com uma mente criativa como a minha sempre vão ler histórias se vendo nos protagonistas, sentindo suas dores e alegrias... você que esta lendo esse entrevista que parece podcast escrito, deixa nos comentários, o que sentiu quando leu pela primeira vez uma história com um personagem que compartilha tantas coisas com você?
Íris - Hahaha, ele faz o engajamento deleh! Ah, você é demais!!
Clima de tensão ~musica de novela~ Quais desafios você enfrentou como escritor LGBTQIA+ e como os superou/tem superado?
Luh - Desafios!? Hum... por mais que eu odeie admitir, minhas obras são bastante flopadas em termos populares, não que eu ligue muito para isso, pois não vivo disso, escrevo coisas que acalentam meu coração, como escritor meu maior desafio são os bloqueios criativos que tenho, não consigo escrever algo por escrever, preciso sentir para conseguir transmitir as pessoas que leem... Contudo também acompanho tantos escritores formidáveis do nosso Brasil que precisam ser engajados nas redes sociais que tendem a flopar muito esse tipo de conteúdo, vamos pessoal, quero todo mundo começando a engajar nossas obras nacionais, temos tantas e muitas dão show nas internacionais.
Íris - Entendo, mas é pra isso que estamos aqui, para conectar amantes da arte a artistas capazes, como você e todos esses que você admira ❤️
E me fala, existem temas ou questões específicas relacionadas à comunidade que você se esforça para explorar em sua escrita?
Luh - Vivemos em uma sociedade que metade é meio dodoi da cabeça e a outra tá sobre efeito de fortes medicação... Eu tento abordar varias coisas em varias histórias diferentes, já abordei primeiro amor ( uma yag apaixonada por amigo de infância, quem nunca), abordei transtornos psicológicos, abordei solidão, abordei auto descobrimento, abordei depressão e esperança, cada um dos meus personagens e das histórias que ja fiz e publiquei ou nem mesmo publiquei trazem algo em cada personagem, fraquezas e forças, mas no final o que cada um se deixa significar é resiliência, trazer consigo por mais das dores, uma mensagem que no final tudo vai dar certo e que sempre tem uma luz no final do túnel, mesmo que as vezes esteja escuro demais ainda para você enxergar.
Íris - Ou seja, uma artista completo. 5 estrelas, aplausos, flores e likes!E você acredita que há espaço para mais diversidade de experiências ou representatividade na escrita mainstream?
Luh - Nossa sociedade já cresceu tanto, se olharmos para trás, não muito tempo, tínhamos o primeiro "minha mãe é uma peça" estreando nos cinemas nacionais, trazendo uma revolução tão avassaladora que fez um homem abertamente gay se tornar alguém amado e aclamado até por pessoas que juravam que ser lgbt era um erro... sim, tenho certeza que ainda vamos crescer até o céu e um dia tocar as estrelas.
Recentemente tivemos um filme pra lá de esperando de VBSA, um livro lgbt, para quem cresceu junto comigo é de sentir no coração o quanto isso é mágico, ter um filme onde você não precisa se fantasiar de uma coisa para tentar chegar perto do que você é, pois ali, na sua frente, você, alguém como você, esta sendo o protagonista da história.
Pessoal, vocês não sabem como é emocionante ver series, filmes, livros, musicas e varias coisas finalmente sendo vista, sendo aclamada e um sonho que estamos realizando aos poucos e que acredito que teremos ainda muito mais, pois nossa comunidade cansou de esconder nosso brilho, nossos artistas, hoje são a elite e digo isso com firmeza, pois chegar onde eles chegaram não é tarefa fácil e sendo da comunidade é 3x mais difícil.
Íris - Ah eu concordo demais, e essa questão nos leva a mais perguntas do mesmo tema.
Como você acha que a representação LGBTQIA+ na mídia e na cultura popular tem evoluído ao longo dos anos ou é muito Pink money? O que você pensa sobre quem usa isso para se promover?
Luh - Vou ser realista, o Twitter vai me odiar por isso, mas... lá vai, existem obras e obras, precisamos aprender a filtrar muito o que consumimos e com quem gastamos nosso tempo e dinheiro, como ainda participante ativo da comunidade BL estou vendo muita coisa acontecendo como autoras que simplesmente esculhamba toda nossa comunidade por sermos latinos, mas é a obra dela ser licenciada aqui que vira um doce de pessoa, até pq nós somos uma fanbase, o público lgbt e feminino são comunidades que quando abraçam uma obra eles a levam debaixo do braço.
Outra coisa que tem me incomodando é sobre a banalização que esta se tornando o est* em obras coreanas, enfim isso é assunto para outro dia ( quem quiser saber mais sobre isso deixa o like e segue ai que aqui o conteúdo é babadeiro ^-^).
A opinião polêmica que tenho é: tudo é pelo pink money, por mais representativo que seja, por mais que em entrevista e bastidores falem "tudo pela representatividade", a verdade é que não é, sempre irá ter um viés monetário por trás, ninguém abre um negócio se não for para ter lucro... agora nós como público precisamos ficar atentos, você prefere uma obra escrita, dirigida e que conversa com você e com sua sexualidade? Ou prefere ter personagens caricatos que mais parece cota lgbt por pena? É de suma importância que paremos de aplaudir as microrepresentações, já saímos dessa fase, não precisamos de personagens desconhecidos sendo postos em banners só pra falar que tem, mas no final eles mal aparecem na história ou são relevantes pra mesma.
Pessoal nós temos uma arma assim como eles também, eles querem nosso dinheiro e nós temos o direito de escolher como gastar, sejam críticos, muito mais que LGBT's, somos consumidores e como tal eles precisam dar o que queremos! Usemos o sistema deles, contra eles.
Íris - Pediu shade? Tem! Pediu lacre? Tem! KKKKKKKK eu to rachando! e concordo, se a empresa não é composta e pensada por LGBT's, ela é apenas mais uma, nér...
Qual é o maior mito ou estereótipo sobre a comunidade que você gostaria de desafiar ou desmistificar através de sua escrita?
Luh - Talvez o maior de todos seria sobre como vivemos, pois por causa de tanto preconceito e todos os ataques que são fomentados, muitas pessoas ainda acham que nossa comunidade é algum tipo de quadrilha que vai entrar na sua casa, espirrar na cara do seu filho pra transformar ele em LGBT e depois vai sair pelado distribuindo kitgay na rua (inclusive to esperando o meu, PT VOCÊ PROMETEU, QUERO OS ÁLBUNS DA LADY GAGA NA MINHA MESA!).
Somos pessoas normais, querendo viver nossas vidas de forma pacífica como todo mundo, não pretendemos virar algum tipo de vilão que vai dominar o mundo e explodir... (não somos homens brancos cis hetero brincando de guerra usando pessoas reais como peões em tabuleiro).
Íris - Cadê meu kitgay?? Será que eu mesmo terei que produzir? KKKKK E você tem algum conselho que daria a outros escritores LGBTQIA+ que estão lutando para encontrar sua voz ou lugar na indústria?
Luh - Não tenham medo de fazer a personagem mais poc que puder, não tenham medo de escrever e das críticas, você que esta ali dando deixando um fragmento de sua alma em cada palavra e pagina escrita, se orgulhe do que esta fazendo e acima de tudo de quem você é. Nem sempre vai ser fácil e muitos comentários podem ser até maldosos, porém se lembre... teu perfil não é uma democracia é uma monarquia e você é a rainha, exclua e bloqueie a vontade.
Íris - KKKKKKKKKKKKKKK AH VOCÊ É TUDOOOO!!
Meu bem, agradeço muito a sua participação. Gostaria de mandar um áudio para o seu público? Como as pessoas podem ler/ver seu conteúdo?
Luh - Claro! (Link do audio)
Íris - Você é demaaais!!
Obrigado por tudo ❤️
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