Entrevista - Autor Poison
- Mujigae Publisher
- 3 de jun. de 2024
- 7 min de leitura
Atualizado: 5 de jun. de 2024
Essa é a primeira de uma série de entrevistas com autor e artistas LGBT+ e apoiadores da comunidade. Então aproveitem 💖

Íris - Oiê! Tudo bem?
Nós somos a Mujigae, a editora nova no mercado voltada 100% para o público LGBT.
Hoje será a nossa entrevista para o Mês do orgulho, abrindo com chave de ouro ❤️
Se apresenta pra gente!! Qual o seu nome e seus pronomes? Qual seria a sua sexualidade? E gênero? Cis, trans, NB?
Poison - Olá, meu nome é José Luiz dos Santos, mas podem me chamar de Luiz ou Poison. Tenho 31 anos, sou enfermeiro e escritor na horas vagas. Meus pronomes são ele/dele. Cis gênero e bissexual.
Íris - Que legal!! isso já nos leva para uma questão muito intrigante que é como sua identidade LGBTQIA+ influencia sua arte/escrita?
Poison - De vários modos, desde a minha infância até a adolescência, eu já sabia minha sexualidade, e ainda na adolescência conheci e me aprofundei no gênero de romance de diversas obras, mas foram os yaois/baras que me cativaram a entrar de vez na escrita. Inicialmente eu só lia e imaginava como era escrever uma obra literária, eu tive dezenas e mais dezenas de inspirações, e Magos foi uma obra que me deu oportunidades de mostrar meu talento.
Íris - Que fantástico! E como você vê o papel da escrita na representação e na luta pelos direitos da comunidade?
Poison - A escrita na minha visão, seja em literatura, mídia, blogs ou redes sociais, permite que as experiências e histórias da comunidade LGBTQIAP+ sejam contadas. Autores LGBTQIAP+ podem compartilhar suas vivências, lutas e triunfos, criando uma representação autêntica e diversificada que contrasta com estereótipos e narrativas dominantes. Escritos que registram a história e a cultura LGBTQIAP+ são fundamentais para preservar a memória coletiva da comunidade. Desde diários pessoais até grandes obras literárias e acadêmicas, esses documentos ajudam a garantir que a história da comunidade não seja apagada ou ignorada, fornecendo uma base para a luta por direitos. A escrita também serve como um espaço para cura e autoexpressão. Diários, poesia e ficção permitem que nós, os indivíduos LGBTQIAP+ explorem e processem nossas identidades e experiências de forma segura e criativa, contribuindo para a saúde mental e emocional. A escrita, portanto, é uma ferramenta vital na luta pelos nossos direitos da comunidade LGBTQIAP+, proporcionando uma plataforma para representação, mobilização, educação e transformação social. Ficou meio grande, mas essa é minha visão.
Íris- eu não esperava menos de um escritor tão detalhista e criativo! Porém, isso nos leva aos desafios... Quais desafios você enfrentou como escritor LGBTQIA+ e como os superou/tem superado?
Poison - Inicialmente comecei escrevendo pequenos contos para esfriar minha cabeça devido ao estresse da faculdade, eu precisava de um escape, foi quando eu escrevi uma pequena obra no universo omegaverse, eu queria testar minhas habilidades na escrita, publiquei a obra em um site de "fanfics" apesar de ser uma obra original, tive muitas dificuldades, pois na época eu era meio que desconhecido e depois que finalizei a obra constatei o que estava errado e nessa época também, um autora coreana entrou em contato comigo querendo comprar minha obra, ela pagou tudo certo e não tive contato com ela depois. Agora sobre Magos, a história foi mais difícil, pois é uma obra complexa. Já sofri ataques homofóbicos e já fui até ameaçado por estar escrevendo algo sobre amor entre dois homens, todos foram superados exceto a imaginação, para escrever algo bem detalhado, a imaginação tem que estar muito aflorada, diálogos precisam ser precisos e concisos, essas dificuldades ainda me atrasam, mas ainda assim eles precisam estar lá para tirar o máximo possível de sua mente!
Íris - Uuff… que tema pesado… Sinto muito por ter passado por isso D:
Vamos lá, alto astral!! Existem temas ou questões específicas relacionadas à comunidade que você se esforça para explorar em sua escrita?
Poison - Sim, como por exemplo as diversas sexualidades que ainda não explorei na minha obra, em Magos queria explorar a transexualidade em alguns personagens, mas eu não coloquei devido a falta de conhecimento sobre, também tive (e ainda tenho) em me adaptar ao gênero neutro, eu sou de 92 e ainda assim cometo gafes ao conversar com uma pessoa do gênero neutro, acabo errado o pronome dessa pessoa, ou designo a pessoa como "ela", são dificuldades que estão sendo sanadas, e uma obra que na qual eu estou escrevendo, possui uma personagem que é uma mulher trans e é uma das protagonistas dessa obra nova, pois eu aprendi muito sobre a transexualidade e quero explorar ainda mais nas minhas obras futuras.
Íris - Caramba, que obra diversa!! Um deleite aos olhos das crias dos anos 90 haha (tô nessa também)
E você acredita que há espaço para mais diversidade de experiências ou representatividade na escrita mainstream?
Poison - Sim, a humanidade está em constante evolução social, Brasil até os anos 98, a pessoa da comunidade tinha que se esconder para não morrer pelas mãos da ignorância, hoje, infelizmente, muitos da comunidade são mortos por serem LGBTQIAP+, mas a diferença entre décadas é grande, hoje temos espaço na televisão, na politica e etc... Especificamente na escrita como por exemplo: James Baldwin - Conhecido por obras como "Go Tell It on the Mountain" e "Giovanni's Room," Baldwin explorou questões de raça, sexualidade e identidade, também tem aVirginia Woolf - Sua obra "Orlando" é um clássico que desafia normas de gênero e sexualidade. Carmen Maria Machado - Conhecida por "Her Body and Other Parties" e "In the Dream House," Machado escreve sobre gênero, sexualidade e trauma. David Levithan - Conhecido por seus romances jovens adultos como "Boy Meets Boy" e "Two Boys Kissing," que tratam de temas LGBTQIAP+ (recomendo muito esse). Autores nacionais que são da comunidade como Caio Fernando Abreu - Conhecido por suas obras que exploram a solidão, a sexualidade e o cotidiano urbano, como "Morangos Mofados" e "Onde Andará Dulce Veiga?". Adriana Lisboa - Autora de obras como "Sinfonia em Branco" e "Rakushisha," Lisboa aborda questões de identidade e sexualidade com sensibilidade e profundidade. E muitos outros.
Íris - Caraaaaca maninho, que aula 💓 E isso me leva a uma pergunta que me intriga demaaais.
Como você acha que a representação LGBTQIA+ na mídia e na cultura popular tem evoluído ao longo dos anos ou é muito Pink money? O que você pensa sobre quem usa isso para se promover?
Poison - Atualmente, no Brasil, você vê pouco na mídia, poucas emissoras adentram nesse tema por medo de retaliação, como vimos em algumas novelas da "Globe", quanto as mídias sociais, você consegue ver melhor que a comunidade está ativa, alguns são Pink Money, e a maioria evoluiu muito, pode demorar um pouco até que a mídia televisiva aceite-nos melhor sem medo de retaliações dos "retrógados". Agora sobre as pessoas que usam e abusam para se promover, deveriam tomar vergonha na cara, não quero dizer nomes, mas ele era maquiador da "micheque", são oportunistas que usam e abusam de forma leviana a imagem da comunidade e podem manchá-la aos olhos da sociedade, essas pessoas deveriam ser excluídas.
Íris - KKKKKKKKKKKKKKK O SHAAAADE! Limpa, limpa aqui tá escorrendo, migs KKKKK aiai bora lá antes que o processo venha…
Poison - kkkkkkkkkkk
Íris - Qual é o maior mito ou estereótipo sobre a comunidade que você gostaria de desafiar ou desmistificar através de sua escrita?
Poison - Acho que o maior estereótipo que deveria sumir é aquele que nós da comunidade estamos sempre mudando de parceiro ou parceira, e o estereótipo "quem é o homem ou a mulher da relação' são dois estereótipos que não me descem, pois nós nos apaixonamos como qualquer pessoa, ficamos tristes, somos traídos, nos casamos como qualquer pessoa. Já em obras literárias você já vê esse tipo de estereótipo sendo quebrado, mas não ajuda muito quando a obra é feita pela mídia no geral, tem filmes e séries LGBTQIAP+ que assisti que me fizeram refletir, "Por que fazer uma obra tão estereotipada da comunidade?" Nós não somos assim e nem seremos assim, claro, alguns se destoam, mas é uma pequena minoria da comunidade.
Íris - Nossa, concordo demais! Nada ver nos colocar em caixinhas tão ridículas.E você tem algum conselho que daria a outros escritores LGBTQIA+ que estão lutando para encontrar sua voz ou lugar na indústria?
Poison - Sei que a jornada de um escritor LGBTQIA+ pode ser cheia de desafios únicos. Encontrar sua voz em um mundo que muitas vezes tenta silenciá-la pode parecer uma tarefa monumental. No entanto, quero te lembrar de algo fundamental: sua voz é poderosa porque é autêntica, e o mundo precisa das suas histórias.Primeiro, nunca subestime o poder da comunidade. Conectar-se com outros escritores LGBTQIA+ pode ser uma fonte inestimável de apoio e inspiração. Busque grupos de escritores, participe de workshops e eventos literários que celebrem a diversidade. Esses espaços não só oferecem suporte emocional, mas também são ricos em oportunidades de networking e crescimento profissional. Segundo, abrace sua identidade com orgulho nas suas escritas. Sua perspectiva única é uma joia rara no vasto mar da literatura. Não se sinta pressionado a moldar suas histórias para se adequarem a um padrão que não reflete quem você é. A autenticidade é o que ressoa profundamente com os leitores. Quando você escreve a partir do coração, sua paixão e verdade transparecem, tocando aqueles que encontram suas palavras. Terceiro, esteja preparado para a resiliência. O caminho pode ser repleto de portas fechadas e momentos de dúvida, mas cada rejeição é uma oportunidade para crescer e melhorar. Persevere, continue escrevendo e buscando por aqueles que apreciem e entendam o valor do que você tem a oferecer. A persistência é uma aliada poderosa na busca pelo seu lugar na indústria literária. Por fim, nunca esqueça que a literatura tem o poder de transformar e influenciar. Suas histórias podem inspirar, consolar e educar, não apenas outros membros da comunidade LGBTQIA+, mas todos os leitores que buscam empatia e compreensão. Ao compartilhar suas experiências e imaginação, você contribui para um mundo mais inclusivo e consciente. Então, continue escrevendo. Sua voz é necessária, suas histórias são valiosas e seu lugar na literatura está esperando por você. O mundo precisa da sua autenticidade, da sua coragem e do seu talento. Nunca duvide do impacto que você pode ter.
Íris - Pedi um almoço e ganhei 8 cestas básicas + 3 semanas de feira ❤️
Meu bem, agradeço muito a sua participação. Gostaria de mandar um áudio para o seu público? Como as pessoas podem ler/ver seu conteúdo?
Poison - Claro! (Link do audio)
Acho que ficou bom.
Estou reformulando a minha obra principal para ficar mais completa e concisa com a escrita, demora um pouco, mas eu chego lá!
Íris - Ah que demais! Obrigado Posion 💘

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