Entrevista - Artista Bel
- Mujigae Publisher
- 6 de jun. de 2024
- 5 min de leitura
Continuando com a nossa série de entrevistas, hoje teremos o papo super descontraído e cheio de pautas importantes, com esse artista com talento pra dar e vender! Então dispensem muito carinho e apoio a este mini-querido <3
Obrigago, Peeel 🌈
Íris - Se apresenta pra gente!! Qual o seu nome, sexualidade, identidade de gênero e pronomes?
Bel - Olá, meu nome é Isabela!! Gosto dos apelidos bel e pel, sou não-binário e uso ela/elu/ele sem ordem de preferência
Íris - Que demais, estamos na mesma bandeira, haha!! Isso já nos leva para pergunta bem interessante que é como sua identidade LGBTQIA+ influencia sua arte?
Bel - Que legalll Acho que influencia bastante, gosto de fazer desenhos que expressem certo desafio à expressão de gênero, ou de orgulho de ser assexual e arromântico, também das dificuldades sobre isso como disforias (esses eu não costumo postar aqui
além de eu transformar minha própria expressão de gênero em arte muitas vezes.
Íris - Uau! Bem diversificado. Amei! E como você vê o papel da arte na representação e na luta pelos direitos da comunidade?
Bel - Acho fundamental! acho que se não fosse a arte, eu nunca teria me encontrado e provavelmente viveria em uma negação ou sem entender onde me encaixo. digo isso porque desde a música me ajudou, como artistas pop se posicionando... acho que foram meu primeiro expoente, lá quando eu era criança pra eu pensar "isso existe, eu posso ser assim". Hoje a comunidade de arte é um lugar onde me sinto mto confortável pra ser o que sou e por isso tenho forças pra me afirmar (o que já é um ato político) e exigir meu espaço e respeito
Íris -Não poderia concordar mais! Porém, isso nos leva aos desafios... Quais desafios você enfrentou como artista LGBTQIA+ e como os superou/tem superado?
Bel - Como artista eu não sei.. pra mim sempre foi um lugar de conforto, pessoalmente não tive problemas nessa área pq me considero artista por amor e hobby. Na verdade eu curso engenharia da computação e sou dev. no cotidiano encontro muitas dificuldades pois é uma área com muitas pessoas preconceituosas, que fazem ""piadas"" na verdade criminosas e riem, já até sofri assédio sexual em um dos meus últimos trabalhos, meio que com a desculpa de que eu "não tinha provado alguém bom de verdade" e no fim das contas, eu que perdi o emprego. a arte em si é o que me ajuda a passar por esses problemas, embora seja outra área que eu ame, é um caminho espinhoso pra alguém lgbtqiap+ que nasceu com o corpo feminino
Íris - Suuper entendo essa questão corporal que entra em um certo conflito com o gênero... Mas fico tão feliz que você achou na sua arte um recanto de paz <3
E existem temas ou questões específicas relacionadas à comunidade que você se esforça para explorar com seus desenhos?
Bel - Uma coisa que tenho alguns projetos em andamento é como a sexualidade (ou a falta dela) afeta minha visão de gênero e vice-versa. Eu sou autista então tem muitas coisas que não consigo entender, como o próprio conceito de gênero, ou a questão de socialização quando alguém "dá em cima de mim" e eu não entendo qual brecha eu dei, ainda entram coisas que me causam disforia como o corpo com mais curvas que é visto como algo sensual e convidativo, mas eu simplesmente não escolhi isso.. são projetos que estão em andamento, tanto em textos como desenhos, tentando explicar como esse emaranhado psicológico, neurológico, sexual e de gênero acabam se confundindo e um puxando o outroé algo novo que, em um círculo de amigos aroaces, descobri que é algo que pode ser mais comum do que se pensae também consultei colegas psicólogos e autistas da comunidade
Íris - Caramba, eu esperava uma resposta profunda, mas eita... É muito bom ver que pessoas neurodivergentes estão se aventurando para entrar nessa mídia, que é tomada por pessoas típicas.
Bel - Acredito que há um espaço limitado, ainda tem muito a ser conquistado. na arte mainstream ainda vemos representações muito erradas de neuroatípicos e quanto à questão LGBTQIAP+, tá bem melhor mas ainda tem muito mais a explorar. sinto que muito do palco é dado pra homossexuais e trans binários, o que não tá errado mas tem muito mais!! um que tinha alguns pontos errados e mesmo assim eu amei, foi a novela que tinha o personagem assexual. só de mostrar que existe, é muito bom! sinto que ainda temos que conquistar mais espaços pra essas bandeiras da comunidade que não são muito vistas, e lutar pra melhor representação de todas elas
Íris - Você tirou as palavras da minha boca! E isso me leva a uma pergunta controversa. Como você acha que a representação LGBTQIA+ na mídia e na cultura popular tem evoluído ao longo dos anos ou é muito Pink money? O que você pensa sobre quem usa isso para se promover?
Bel - Eu acho que uma coisa levou a outra.. acho que em certo ponto as lutas sociais levaram à uma maior conscientização e consequentemente maior abordagem do tema por famosos e marcas e é nesse ponto que acho que o capitalismo entra em ação e faz o que faz: transforma tudo em produto e quem lucrar mais, ganha, independente se isso vai pra causa de verdade. acho que por isso, a comunidade lgbtqiap+ deve andar de mãos dadas com um movimento progressista e anticapitalista, porque é esse modelo de sociedade que permite que nos coloquem como animais de circo e vendam nossa imagem e quem somos, sem de verdade nos ajudar. é muito boa a maior representação, mas acho bom o pé atrás e ver quais famosos, quais marcas, quais empresas continuam nos apoiando fora do mês do orgulho. tem muito pink money e queerbait por aí, se queremos respeito temos que ter uma visão crítica e não simplesmente comer famintos qualquer migalha que dão
Íris - EEEEITA como laaaacra!!! Vc é diva em cada colocação que faz.
Sendo um ser tão maravilhoso, você tem algum conselho que daria a outros escritores LGBTQIA+ que estão lutando para encontrar sua voz ou lugar na indústria?
Bel - Eu diria que devem construir muita força, própria e com rede de apoio. tem muitos escritores e artistas no geral que estão no mesmo barco, e a união faz a força!! assim, podem trocar experiências, ideias, criar coisas juntos e o melhor: se ajudar nessa trilha de arranjar seu espaço e de ajudar a comunidade. quanto mais gente pensando no coletivo, melhor! assim, quando tentarem nos acuar falando mal de obras ou de quem somos, teremos com quem contar e compartilhar. todo mundo pode se ajudar a crescer
Íris - Oownnn que fofinho... Tenho certeza que as pessoas ficarão felizes por saber que fazem parte do mesmo ramo que você <3
Pra fechar com chave de ouro, qual é o maior mito ou estereótipo sobre a comunidade que você gostaria de desafiar ou desmistificar através de sua arte?
Bel - Através da minha arte queria apoiar minhas próprias bandeiras, desmistificar a ideia de que uma expressão feminina ou masculina define o gênero de alguém, desmistificar que não binários tem que ser neutros em todos os aspectos de aparência ou pronomes, desmistificar que arromanticos não podem gostar de alguém ou que assexuais não podem fazer sexo. acho que é onde mais quero contribuir, trazer visibilidade pros guarda-chuvas da não-binariedade e do a-spec
Íris - Aaaah que coisa mais lindaaaa Meu bem, agradeço muito a sua participação. Gostaria de mandar um áudio para o seu público? Como as pessoas podem ler/ver seu conteúdo?
Bel - Eu agradeço muito por ter entrado em contato comigo e me dado espaço pra me expressar tá um pouco barulhento aqui onde eu tô mas assim que parar um pouco eu mando um áudio (Ouça o áudio)
Íris - Tá ótimo, meu bem!! Em nome da equipe Mujigae eu digo, muuuito obrigado por ter doado seu tempo.
~link na imagem <3~
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